Livro sobre ensino de teatro no letramento étnico-racial dos educandos é lançado em comunidade quilombola do Recôncavo Baiano

Imagem do lançamento do livro "Texto, jogo e cena" Foto: @eliezer_de_santana

Por Eliezer de Santana
Obra de Rubens Celestino destaca o teatro negro como ferramenta pedagógica e de valorização da identidade quilombola

Foi lançado nesta quarta-feira (17), no distrito de Monte Recôncavo, em São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano, o livro “Texto, jogo e cena: Um monte de possibilidades quilombolas para o ensino de teatro na escola”, de autoria do professor e pesquisador Rubens Celestino.

A obra aborda o ensino do teatro negro nas escolas e é resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo autor a partir de fragmentos de textos de artistas negros como Abdias do Nascimento e Solano Trindade, além de narrativas orais e memórias de moradores mais antigos da comunidade. O trabalho foi aplicado em turmas do 5º ano do ensino fundamental da Escola Municipal Duque de Caxias, localizada no próprio Monte Recôncavo.

O lançamento do livro foi viabilizado por meio de edital público da Secretaria de Cultura de São Francisco do Conde, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Ministério da Cultura.

Durante o evento, Rubens Celestino ressaltou o teatro como uma área do conhecimento fundamental no processo educativo. Segundo ele, a linguagem teatral contribui para o desenvolvimento do senso crítico, da sensibilidade, da criatividade e da imaginação — valores essenciais para a formação humana.

“O teatro é lúdico e abre possibilidades para discutir diferentes temas. No caso do livro, tratamos de memórias e narrativas orais quilombolas, o que incide positivamente na autoestima da pessoa negra quilombola”, destacou o autor.

Lançamento em território quilombola

A escolha do Monte Recôncavo como local de lançamento do livro tem forte significado simbólico. A comunidade foi certificada como território quilombola em 2007 pela Fundação Cultural Palmares, órgão vinculado ao Ministério da Cultura.

Celestino explica que cresceu na localidade e participou, há cerca de 19 anos, das mobilizações pelo reconhecimento oficial da comunidade como quilombola — processo no qual o teatro teve papel central. Para ele, a publicação é um desdobramento dessa trajetória coletiva.

“Esse livro evidencia que tudo o que foi feito lá atrás, a mobilização com o grupo de teatro e a realização de um sonho, gerou frutos. É uma forma de compartilhar com o mundo — não apenas com a comunidade quilombola — um pouco do nosso modo de ver, das nossas inspirações, ideais e desejos”, afirmou.

Formação de professores

O autor também destaca a contribuição da obra para a formação docente, especialmente no que se refere às metodologias de ensino-aprendizagem.

“A formação de professores é algo muito caro e muito importante para mim. Por tratar de uma metodologia pedagógica, tenho recebido contatos de colegas interessados no material. Tem sido muito positivo poder compartilhar esse trabalho”, afirmou Celestino.

Teatro negro como referência

Rubens Celestino enfatiza que o livro se ancora em referências do teatro negro brasileiro, assumindo a arte como instrumento de enfrentamento ao racismo.

“Há um recorte claro do teatro negro. Me inspiro em autores como Abdias do Nascimento e Solano Trindade, que assumiram o compromisso da arte como instrumento de combate ao racismo. Trabalho com histórias de pescadores, marisqueiras, rezadeiras, quituteiras — pessoas simples, mas com uma história belíssima de constituição do Monte Recôncavo”, explicou.

Segundo o autor, o modo de vida da comunidade oferece elementos ricos para a criação dramatúrgica e para a prática pedagógica em sala de aula, fortalecendo uma educação contextualizada e identitária.

Sobre o autor

Rubens Celestino nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA) e vive desde a infância na comunidade quilombola de Monte Recôncavo, em São Francisco do Conde. Atualmente é doutorando em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (PPGAC/UFBA). É mestre em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas pela UFRB e mestre em Artes pelo ProfArtes/UFBA.

Licenciado em Teatro pela UFBA e em Pedagogia pela UFRB, atua como docente na área de Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Quilombola. É babalorixá do Ilê Axé Mean Jagum, liderança do Centro do Caboclo Tumba Junsara e fundador da Companhia de Teatro Mont’Arte.

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