Avanço da sífilis expõe falhas no diagnóstico e ameaça gestantes e recém-nascidos

Foto: Reprodução Internet

Crescimento entre gestantes e jovens expõe desafios no diagnóstico, tratamento e controle da transmissão vertical

A sífilis segue em trajetória preocupante no Brasil, acompanhando uma tendência global de crescimento. Dados recentes do Ministério da Saúde revelam que, entre 2005 e meados de 2025, mais de 810 mil casos foram registrados entre gestantes, com maior concentração nas regiões Sudeste e Nordeste. Em 2024, a taxa nacional de detecção chegou a 35,4 casos por mil nascidos vivos, evidenciando o avanço da transmissão da infecção da mãe para o bebê.

Especialistas apontam que o país enfrenta dificuldades históricas para conter a sífilis congênita, apesar de se tratar de uma doença de diagnóstico simples e tratamento de baixo custo. Para a ginecologista Helaine Maria Besteti Pires Mayer Milanez, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o problema não está na falta de protocolos, mas na aplicação inadequada do conhecimento disponível na rotina do pré-natal.

Segundo informações do site Agencia Brasil, entre os principais entraves estão o subdiagnóstico e a interpretação incorreta dos exames laboratoriais. Testes sorológicos mal avaliados levam à falsa impressão de infecção passada, deixando gestantes sem tratamento e mantendo o ciclo de transmissão, que frequentemente inclui parceiros sexuais não tratados e reinfecções durante a gravidez.

Outro fator crítico é o caráter silencioso da doença. A maioria das gestantes infectadas não apresenta sintomas, o que torna o rastreamento laboratorial essencial. O mesmo ocorre entre os homens, que muitas vezes não percebem as lesões iniciais ou deixam de procurar atendimento após o desaparecimento espontâneo dos sinais clínicos, permanecendo transmissores da bactéria.

O perfil dos infectados também chama atenção. Jovens entre 15 e 25 anos e pessoas da terceira idade concentram parte expressiva dos novos casos. Entre os mais novos, a redução do medo das infecções sexualmente transmissíveis e o abandono do preservativo contribuem para o avanço da doença. Já entre os idosos, o aumento da vida sexual ativa, aliado à falsa sensação de segurança pela ausência do risco de gravidez, tem favorecido a exposição.

A proximidade de períodos festivos, como o Carnaval, reforça o alerta das autoridades de saúde para o uso de métodos de barreira. Embora haja avanços importantes no enfrentamento do HIV, como a disponibilização da PrEP no SUS, a sífilis continua sem alternativas preventivas farmacológicas, tornando o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno as únicas formas eficazes de controle.

Sem intervenção adequada, a infecção pode evoluir para estágios mais graves e, no caso das gestantes, o risco de comprometimento fetal pode chegar a 100% nas fases recentes da doença. Por isso, especialistas defendem que a ocorrência de sífilis congênita seja encarada como um dos principais indicadores da qualidade da atenção pré-natal no país, e um sinal claro de que o enfrentamento da doença ainda precisa avançar.

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